O triste fim do pinheirinho de Natal

7 jan • A Vida como ela foiNenhum comentário em O triste fim do pinheirinho de Natal

Nos meus natais de criança, o pinheirinho era tirado das casas após o dia 6 de janeiro, data em que as colônias alemãs festejam o Dia de São Nicolau. Não existia a figura do Papai Noel, apenas uma espécie de Mamãe Noel que visitava as casas na noite do dia 24 de dezembro. Papai Noel foi uma conspiração de empresários, uma espécie de Frankenstein de touca, casaco vermelho e transportado por renas, porque era preguiçoso e gordo demais para correr. E não foi ele quem começou o hábito de levar o saco nas costas, foi São Nicolau. O bom velhinho é um tremendo factoide, como se vê.

No dia 7 de janeiro, o pinheirinho, um galho da nossa araucária, já estava bem murchinho. Nós o levávamos para um canto do pátio onde nem velado era, morria aos poucos até ficar seco e ideal para acender a lenha do fogão. Outra parte era guardada como as cinzas da cremação dos humanos, mas não para reverenciar sua memória. Em caso de tempestade de raios, era queimado junto com as palmas secas do Domingo de Ramos da Páscoa. Acompanhado de uma oração a Santa Bárbara, evitava danos às casas e as protegia dos raios.

Morte triste e dolorida, cantaria Teixerinha. Triste e abandonado como um cão, cantaria Nelson Gonçalves. Recém tinha aprendido a ler de verdade quando me caiu nas mãos um conto dos Irmãos Andersen, que contava exatamente a vida e morte de um pinheiro de Natal. Quando era pequeno, os ventos que varavam a floresta contavam maravilhas do Natal dos humanos, ele seria adornado com bolas e grinaldas coloridas com um presépio no pé, todo iluminado. Então, os pais das crianças sentados no pé da árvore contavam histórias de Natal.

“Não dê ouvidos aos ventos”, diziam os pinheiros adultos, “fique na floresta porque, na cidade, sua vida será curta e trágica”. O jovem pinheiro desdenhou os mais velhos, e foi com alegria que ofereceu seu tronco aos lenhadores que vieram buscá-lo. Vieram os curtos dias de glória e deslumbramento, depois os dias de envelhecimento até ser consumido pelo fogo.

Nos últimos instantes de vida, o pinheirinho lamentou não ter dado ouvidos aos mais velhos. Mas aí, como todo e qualquer arrependimento, já era tarde.

Foto: Cleiton Thiele/SerraPress

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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