O sorvete de flocos
O Miguelão, Mighel Pergher, diretor de vendas da Vinícola Aurora, meu querido e prematuramente falecido amigo, costumava me convidar para um xixo (pedaços variados de carne entremeados com cebola e tomate) durante o veraneio na casa que ele tinha na praia de Paraíso, a 12 Km de Torres (RS). A especialidade do gringo era o xixo, mas ele ia além do dever. Pareciam cópias xerox, de tão iguais eram os espetos.
Da primeira vez que almoçamos lá, a Valderez, mulher do Miguelão, serviu a sobremesa: sorvete de flocos. Justo o único sorvete que não aprecio, falei. O gringo me olhou de esguelha. Na semana seguinte, tudo se repetiu, inclusive a sobremesa. Durante anos, foi sempre a mesma coisa. Sacana como era, o Miguelão pegou no meu pé. A sobremesa sempre era sorvete de flocos. Um dia tu me paga, Miguelão.
Na semana passada, festejamos o aniversário da minha filha. Nós todos reunidos como eu gosto. O prato, a cargo de Dona Maria da Graça, foi supimpa. Quando ela foi buscar a sobremesa, perguntei qual era.
– Sorvete de flocos – gritou ela lá da cozinha.
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