O segredo do Mateus

21 set • A Vida como ela foi1 comentário em O segredo do Mateus

 Um dos melhores lanches que se fazia na Porto Alegre de antanho era o sanduíche de pernil do Mateus, misto de restaurante, aderia e lancheria, que ficava defronte à Praça da Alfândega, quase ao lado do Clube do Comércio. Receita simples: pão d’água com recheio de lascas de pernil de porco e molho bem caseiro, nada daqueles que são segredo de família, cheio de complicações. Não mesmo, molho comum, o mesmo que molhava o cachorro-quente da casa.

 O pernil do Mateus era famoso. Para começar ficava aberto de madrugada, a rua era segura e tenho pena de vocês que precisam olhar para trás a cada dez metros de caminhada, mesmo de dia. Vocês não conheceram a felicidade, maioria infeliz. Voltando à vaca fria: a gente se perguntava como era possível que o sanduíche de pernil do Mateus pudesse ser tão bom e todos os que tentavam imitá-lo não conseguiam fazer coisa que prestasse.

 Depois que o Mateus fechou, durante anos – décadas até – experimentei esse lanche em um sem número de casas, eu e todos os amantes do Mateus dos anos 1960. Nunca passaram do razoável. No início dos anos 90, um amigo me ligou para dizer que abriria uma lancheria, que o maldito corretor de texto insiste que é lanchonete, e que esse era a especialidade da casa. Fui, comi, e não voltei. Seco como verão nordestino e molho metido a besta, com pão massa doce, desses de cachorro-quente de hoje, um atentado do EI.

 Quebrei a cabeça para descobrir qual seria o segredo do Mateus. Um dia, dissolvi as brumas que cercam a memória e fiz um replay mental, buscando cada passo desde chegar no balcão, fazer o pedido e receber o lanche. Veio um vento mais forte e a cena ficou clara, claríssima, então descobri qual era o segredo.

 O pernil era lascado na hora. Ficava sempre úmido. Qual a novidade? Perguntarão vocês. Vos digo: esta mesma frase foi dita a Colombo e ao seu ovo de pé.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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One Response to O segredo do Mateus

  1. Rogério Teixeira Brodbeck disse:

    Muito bem lembrado. Fui um fã do Mateus em duas etapas: primeiro, quando piá, e meus pais iam ao cinema com meus tios que moravam na Pensão Saraiva que ficava ao lado da lancheria. Sempre fazíamos uma boquinha. Depois, já taludinho, quando cadete da briosa, anos 67 e tantos, fazia um rango com aquela mostarda fogosa. Bem mais tarde, abriu um outro Mateus na subida da Borges, ao lado da Spaghetilândia, antes do Vitória… mas isso já é outra história…

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