O samba na tribo
Carnaval de rua bom mesmo era o de Porto Alegre até os anos 1970. As escolas de samba eram poucas e, como hoje, tentavam imitar as escolas cariocas mas sem o dinheiro e a expertise. E, sem público ou com bem menos público. Também havia os blocos – quem ganhava quase sempre o prêmio de melhor bateria era o Bloco Os Cobras, de São Leopoldo. Quase todos eram loiros de olho azul, mas a bateria era show de bola. Em alguns anos, o puxador de samba dos Cobras era Cauby Peixoto, que não andava em fase boa.
A questão é que tudo era mais improvisado, o sapateiro não ia além das chinelas. Não tinha aquelas pirotecnias nada a ver, era samba no pé mesmo e fim de papo. E a batida de samba, não de marcha-rancho como hoje.
As tribos eram um espetáculo à parte, Guaianases, Tupis, Guaranis, Goitacazes e várias outras, até que entraram tribos alienígenas, com os Comanches. Poucas tinham recursos. Os figurantes mais pobres usavam penas de espanador coladas em uma sunga, arcos, flechas e cocares toscos, gritando úúúúú o tempo todo. Mas aí é que estava a beleza da coisa: a espontaneidade.
O povão chamava de “tribulas”, expressão criada pelo humorista Carlos Nobre. Teve um ano, início dos 70, que foi o máximo de viagem. Com nome emprestado de tribo norte-americana, uma delas desfilou cantando um arremedo de tupi-guarani e o tema era Ascensão e Glória dos Incas. Acho até que levaram o prêmio de Melhor Tribo.