O salto na Kombi
Anos 1970. Um artista ligado ao universo tradicionalista procurou o seu amigo delegado da 10ª DP, proximidades do HPS, para relatar o furto da sua Kombi que estava estacionada na rua José Bonifácio.
– Foi o Zé da Kombi – falou um inspetor veterano. – Ele só furta Kombi, é um especialista que usa um macete de abrir as portas sem quebrar vidros nem pé-de-cabra.
O delegado desconhecia esse particular, então foi atrás. Horas depois, prendeu o cara num boteco da Cidade Baixa. O policial e o dono da Kombi queriam que ele mostrasse como conseguia a proeza sem quebrar nada e sem micha. Depois de ser gentilmente convencido que deveria abrir o bico, mostrou sua técnica.
Parecia muito simples. Ele se postava bem na frente do carro e dava um pulo em cima da pequena beirada do para-choque. Ouviu-se um estalo e as duas portas trancadas da Kombi abriram uma frestinha, suficiente para usar um arame e destravar as portas.
O delegado tentou, o dono da Kombi tentou, o inspetor tentou e ninguém conseguiu repetir o macete do Zé da Kombi. Tinha a ver com o peso e posição certas, um sistema de alta tecnologia empírica desenvolvida pelo Zé.
Quem passasse pela rua Jacinto Gomes de manhã e no final da tarde, nas semanas seguintes, via uma cena estranha, várias vezes ao dia: um policial corpulento e alto pulando em cima do para-choque da Kombi da delegacia e depois meneando a cabeça, desolado. “O homem deve ter pirado”, dizia a vizinhança.