O resgate
Meio dia, sexta-feira. Caminho pela Rua da Praia, nas imediações do Zaffari, quando um sujeito troncudo mas zero aparência de morador de rua emparelha comigo e diz:
– Já leste o livro O Resgate? Muita gente não leu e se ferrou.
Ameaça, birutice? Saberei quando pedirem o meu.
O tríplex…
Os jornais gaúchos têm um conceito estranho sobre o que vem a ser um prédio luxuoso. No final de semana, saiu uma nota dando conta que a Polícia prendeu, em Santa Cruz do Sul, um homem de 35 anos que fazia a contabilidade de uma quadrilha de traficantes “e morava num tríplex avaliado em R$ 1 milhão”. Vamos combinar uma coisa. Um milhão em três andares dá R$ 333 mil por andar, é quase o valor de um apartamento do Minha Casa, Minha Vida.
…a suíte
A metragem total provavelmente não deve ultrapassar 70 m2. Ah, dirão, mas tinha piscina e banheira com hidromassagem. Neste caso, a tal banheira deveria ocupar um andar inteiro. Nesses apartamentos minúsculos, que estão construindo, tem que entrar com muito sono no quarto de casal. Perdão, “suíte”. Não esqueçam que, em muitos, o que antes se chamava de quarto da empregada também virou “suíte”.
…e sardinhas
Outra coisa nestes pequenos apartamentos em que tem que entrar de lado e se esgueirar nas peças: biblioteca nem pensar. Se botar em prateleira não cabe mais que meia dúzia de livros. E dos fininhos. Ah, é tendência, dizem os corretores. Claro que é. Tendência de virar sardinha em lata.
Eternamente condenados
Não sei porque as gentes se horrorizam tanto com a baixa qualidade dos nossos parlamentares. É o retrato fiel da sociedade brasileira, ora, e como tal tem gente boa, safados, ladrões, gente de respeito, pessoas acima da média, gênios, idiotas, malucos, sem-noção. E à pergunta que sempre fazem “Mas onde vamos parar?”. Vamos parar onde este país vai parar. Não vai parar, já parou, deitado eternamente em berço esplêndido. O Brasil resiste à qualificação. Não é pessimismo. É constatação.