O repelente do Ratinho
O Irmão marista Afonso era uma mala, o mais sem alça do Ginásio São João Batista de Montenegro, nos meus felizes 13 ou 14 anos. Quando encasquetava com alguma coisa era melhor ficar quieto. Durante uma aula, o Irmão Ratinho, como era conhecido porque era a cara do Jerry, só que mal humorado como solteirona ouvindo piadinha de sexo, desandou a falar mal das atrizes de cinema que se ofereciam voluptuosamente nos cartazes anunciando filmes.
– É o chamariz repelente da carne – indignava-se.
Achei que estava na hora de marcar meu território. Levantei o dedo como se lança em riste fosse.
– Mas irmão Ra…Afonso, o senhor precisa se decidir. Ou é chamariz ou repelente de carne, porque são excludentes.
Esse ato heroico foi cometido por volta das 10 horas da manhã. Furibundo, quase apoplético, o professor me botou de castigo atrás de uma coluna no pátio, de frente para a parede até as seis da tarde, proibido de falar, rir, chorar. Nunca conheci uma parede com tanta intimidade.
Eu e minha boca grande.