O que há de errado com críticas ou como arruinar um bom relacionamento

4 dez • ArtigosNenhum comentário em O que há de errado com críticas ou como arruinar um bom relacionamento

Harry Fockink

Ao longo das últimas décadas, tenho acompanhado empresas familiares e famílias empresárias e percebido que muitas coisas são similares entre elas, independentemente do quadrante do mundo em que se encontrem. Um dos aspectos que mais pesa na sua não perenização é a degradação das relações entre os familiares que as compõem. Dos itens que levam a essa degradação, criticar em vez de dar feedback pesa muito. É a fonte de grande parte dos ressentimentos.

Há pouco tempo, em um artigo do criador do conceito de Flow (Fluxo), Mihaly Csikszentmihalyi, deparei com um conteúdo interessante a respeito. Esse psicólogo de nome impronunciável se referiu a um estudo de Steven Stosny, um Ph.D., que trata essencialmente pessoas com problemas de raiva e relacionamento. O conteúdo que segue está baseado nas constatações do Dr. Stosny. Considerei-as de grande validade para o ambiente das famílias empresárias, pois aborda as consequências negativas da crítica.

Citando Oscar Wilde, Dr. Stosny começa o referido artigo, com a seguinte frase: “A crítica é a única forma confiável de autobiografia” e segue afirmando que ela diz mais sobre o crítico do que das pessoas criticadas. E que profissionais experientes podem formular uma hipótese diagnóstica bastante precisa de alguém, apenas ouvindo suas críticas.

O artigo segue afirmando que “a crítica também é o primeiro dos famosos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, de John Gottman, usados por ele para prever o divórcio de casais, com mais de 90% de precisão. Pelos estudos de Gottman, é o mais insidioso, seguido de perto por outros três – humilhar ou constranger, ficar na defensiva (vitimismo – tender a se sentir criticado ou julgado) e, por último, mas também importante, ignorar ou desprezar o outro.”

Se vale para a relação matrimonial, vale para o restante das interações familiares? Evidente que sim, pois segundo o Dr. Stosny, a crítica será destrutiva para quaisquer relacionamentos quando:

• For sobre a personalidade ou caráter, em vez de comportamento específico, ou a premissa em questão,

• Vier carregada de acusação ou julgamento (culpar),

• Não enfocar a melhoria,

• Estar fundamentada em que há apenas um “caminho certo” para fazer as coisas (o de quem critica),

• Humilhar o outro (Para diminuir outro, você tem que ser pequeno – Gibran).

Ainda conforme o referido PhD, “a crítica nos relacionamentos com pessoas próximas, no início, na maioria dos casos se dá usando um tom de voz normal e aumenta com o tempo, formando uma espiral crescente de ressentimentos. A pessoa criticada sente-se controlada, o que ela instintivamente rejeita, isso frustra o parceiro que critica. Este então aumenta o tom de como se manifesta, piorando, no outro, a sensação da busca do controle sobre ele, e assim a relação entra em um processo vicioso cada vez pior – uma espiral negativa.

Por que a crítica não funciona?

Em nenhum momento, nessa espiral, um fato óbvio ocorre para a pessoa que critica: com a sua atitude, ela fracassa totalmente em obter uma mudança de comportamento positiva. Qualquer ganho de curto prazo que se possa obter gera ressentimentos que um dia vêm à tona e isso tende a se tornar uma explosão de raiva ou um rompimento definitivo.

Em síntese, a crítica falha porque incorpora duas coisas que os seres humanos odeiam:

1. Ela demanda a submissão do criticado, e odiamos nos submeter.

2. Ela desvaloriza, humilha, e odiamos nos sentirmos diminuídos.

Se por um lado as pessoas detestam se submeter, por outro, gostam de cooperar. As pessoas críticas parecem ignorar um ponto crucial sobre a natureza humana: quem é valorizado coopera; quem é desvalorizado resiste, ressente-se e rompe, ou pior, vinga-se. Se alguém quiser mudar o comportamento de um parceiro, filho, parente ou amigo, primeiro deve mostrar o valor que a pessoa tem. Algo real. Se quiser resistência, basta criticar.”

Em um próximo artigo vou abordar outros conteúdos do Dr. Stosny, entre eles, como saber se somos pessoas tipicamente críticas, qual a diferença entre e como passar a dar feedback em vez de criticar.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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