O Príncipe dos Poetas
Numa das pescarias que a GM bancou no Pantanal por volta de 2000, estávamos curtindo a madrugada subindo o Rio Paraguai com o barco a Princesa do Pantanal ou seria Rainha? Nos três anos que fui, eu e dezenas de jornalistas de todo o Brasil, senti como o Pantanal é mágico. Tem alguma coisa naquela região que mexe com teu DNA. No restaurante do barco, que funcionava 24 horas, falávamos sobre esperanças e desesperanças, quando o jornalista Sebastião Gorgulho se pôs a declamar este soneto do Padre Antônio Thomas.
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidadamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,
O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.
Achei fantástico, então pedi para o Gorgulho o nome do livro para ir à caça. Não tem, respondeu ele, e passou a contar a história do cearense. Padre Antônio Thomas (1868-1941), considerado o Príncipe dos Poetas Cearenses, nunca permitiu que publicassem livros com sua obra, essencialmente poesias. O Ceará o respeitou. A Igreja nunca o viu com bons olhos, porque cantava os miseráveis, os desajustados, os perdedores. Este soneto mostra o quanto o Padre Antônio era bom no que fazia.