O prepúcio do Coelho

25 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em O prepúcio do Coelho

 

Quando Jesus era um bebê, ele, como qualquer outro menino judeu, teve seu pênis circuncisado. Mas como ele era Jesus, seu prepúcio era muito mais especial do que o dos outros. Na verdade, as pessoas achavam que tinha poderes mágicos.

Durante a Idade Média, houve inúmeras reclamações de pessoas que possuíam o prepúcio sagrado. Em um ponto, havia 18 deles pelo mundo, o que quer dizer ou que Jesus tinha 18 pênis, ou que o prepúcio de bebês aleatórios estava sendo penhorado como se fosse o legítimo de Cristo.

Carlos Magno, por exemplo, supostamente deu o prepúcio ao Papa Leão III como um presente de Natal em 800, quando este o coroou imperador. O negócio foi roubado em 1527. Bem, mais ou menos. Foi redescoberto em Calcata, Itália, em 1557, e foi autenticado pela Igreja.

Só que, em 1100, Balduíno I de Jerusalém trouxe um prepúcio de Jesus diferente (mas presumivelmente “legítimo”) para a Palestina durante a primeira cruzada. Esse também desapareceu. Em seguida, reapareceu no século 12, e depois desapareceu de novo. E aí reapareceu de novo em 1856. Então, ou o prepúcio de Jesus pode viajar no tempo, ou alguém (ou todo mundo) mentiu.

Em 1900, o Vaticano declarou que quem falasse ou escrevesse sobre o Santo Prepúcio seria excomungado. No mais novo episódio da obsessão pela carne pobre do pênis de um bebê, um padre em Calcata roubou o suposto verdadeiro prepúcio em 1983, como conta o amigo Davi Castiel Menda.

 

Epílogo

 

E meados dos anos 1980, o meu grande amigo Carlos Coelho, pai das páginas 3 e criador do Informe Especial da ZH no final dos anos 1960, começou a namorar a filha de um general. Certo dia saíamos do Restaurante Dona Maria quando encontramos o empresário Davi Berlim. O Coelho foi logo avisando.

– Davi, quero te comunicar que estou namorando a filha do general fulano de tal, que é judeu como tu, por sinal.

O malandro Berlim nem piscou.

– Coelhinho, o general é muito meu amigo e conheço bem toda a família. Se de fato o namoro evoluir para o casamento, conheço um rabino especialista em circuncisão de gói adulto. E não cobra caro. Passar bem.

O Coelho não casou com a moça. Nem o namoro foi longe, por sinal. Então escapou de ser circuncisado. E da gozação do Davi Berlim, que certamente espalharia a notícia por todo o Bom Fim e alhures. Também escaparia de ter seu prepúcio exposto mundo afora.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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