O poupador

25 fev • A Vida como ela foiNenhum comentário em O poupador

O caso de hoje é contado pelo matemático Davi Castiel Menda. Leia até o fim, há uma surpresa imperdível.

O INCRÍVEL CASO DA POUPANÇA QUE RENDEU 187.100.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 TONELADAS DE OURO

Davi Castiel Menda

Uma boa parcela de conhecidos meus, apostadores bissextos em loterias, ficam apavorados só de imaginar a possibilidade de ganhar um prêmio multibilionário. Alegam que não saberiam como administrar uma imensa fortuna obtida inopinadamente, e que esta pseudo-situação só atrapalharia seus planos, que normalmente obedecem a um padrão fixo e determinado no sonho de consumo de quase todos os apostadores: comprar uma nova casa, um carro novo, viajar, e pronto! Chega! Acho que, em parte, eles até tem razão…

A respeito deste tema, um amigo meu, na década de 80, faturou uma quantia compensadora na Loteria Esportiva, e foi aconselhado pelo gerente de seu banco a aplicar o prêmio integralmente numa poupança, projetando a transformação daqueles milhares de reais em muitos milhões, em poucos anos. Consultando-me sobre o conselho recebido, contei-lhe a historinha abaixo.

Uma pessoa que vamos identificar apenas pelas suas iniciais, DK, morador do Paraná, não tendo o que fazer num domingo chuvoso, resolveu remexer num baú repleto de trastes, e encontrou uma caderneta de poupança, de propriedade de remotíssimo antepassado, da época dos apóstolos. Não é necessário ser um emérito historiador ou um Malba Tahan da vida para constatar que se tratava de uma poupança com idade beirando os dois mil anos. Só houve o depósito inicial, correspondente a uma moedinha pesando um grama de ouro, a juros de 6% ao ano, no Banco Romano, situado em plena Via Ápia.

Procura daqui, procura de lá, DK descobriu que o tal Banco Romano resistira ao tempo e ainda estava em plena atividade na Itália. Contratou um advogado tributarista e pediu-lhe para dar andamento ao caso, ou seja, calcular o montante que teria direito – na condição de legítimo herdeiro – além de preparar a papelada com o intuito de receber o que de direito do tal Banco.

Passados alguns dias, o advogado telefonou a DK para dar seu parecer:

– Meu caro senhor DK. A respeito do processo ao qual fui contratado, tenho duas notícias para lhe dar. A primeira: o senhor, em princípio, transformou-se na pessoa mais rica, não só da Terra, mas de toda a Via Láctea. Eu explico: tivemos que alimentar um super computador com os dados disponíveis, e este, após exaustivos cálculos, chegou à conclusão de que a aplicação daquela simples moedinha de um grama, iniciada nos primórdios da era cristã, a juros de 6% ao ano, dobrava seu valor a cada 12 anos aproximadamente, ou seja, nesse período, o valor inicial dobrou 167 vezes. No dia de hoje, o valor do seu crédito equivale ao número 1.871 seguido de 41 zeros (!) toneladas de ouro. De posse desta informação, contratamos uma empresa especializada em mineração, e esta nos apresentou um relatório impressionante, demonstrando a inviabilidade do cumprimento deste pagamento, pois seria impossível extrair esta fantástica quantidade de ouro, mesmo que utilizadas todas as minas auríferas da Terra e até de todos os outros planetas do sistema solar, admitindo que tivéssemos acesso a eles.

Continuando: considerando-se que a Terra pesa 6.586.242.500.000.000.000.000 de toneladas, dividindo-se o valor do seu crédito atual pelo peso da terra, vamos encontrar como quociente/resultado o valor de 28,4 sextilhões de globos maciços em ouro, cada um deles do tamanho da Terra. Esta seria a quantidade de ouro que o Banco Romano teria que lhe pagar para honrar o depósito do seu antepassado! Neste valor não estão incluídos os meus honorários.

O senhor DK, ao receber aquela sucessão de notícias – que vocês hão de convir, devem provocar uma bela duma confusão mental –  ficou estático, lívido, a pressão subiu, baixou, mas ainda teve forças para, quase num sussurro, perguntar ao advogado:

– E a outra notícia?

– Ocorre que a inflação, neste período de aproximadamente 2.000 anos, foi infinitamente superior aos rendimentos. Feitos os cálculos, o débito para com o Banco Romano, noves fora, é aquele imenso número que lhe passei, multiplicado por três. E vou lhe dar um conselho: fuja imediatamente pois um batalhão de oficiais de justiça já está no seu encalço, tentando cobrar a dívida!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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