O ponto

19 jan • A Vida como ela foiNenhum comentário em O ponto

Em décadas passadas, quando o Brasil ainda tinha indústrias com expressivo valor porcentual em relação ao PIB, P. foi nomeado chefe do escritório do Ministério da Indústria e Comércio que, na época, tinha tanto e até mais importância do que a pasta da Fazenda.

Homem de muito prestígio junto ao partido do governo, estranhei que P. não tivesse sido indicado para um posto de maior relevância. Um dia ele me convidou para conhecer o escritório, na Galeria do Rosário. Dias depois fui lá e fiquei até meio chocado. O espaço era liliputiano, cabendo apenas uma mesa com telefone, um sofá e duas ou três cadeiras.

– Quero dizer que fiquei espantando, meu amigo. Achei que tinhas uma estrutura completa, azáfama de gente entrando e saindo, e agora vejo que parece cela de um frade. Pelo menos o salário é bom?

– Para dizer a verdade, é uma bosta – falou ele sorrindo.

– Então me desculpa, conhecendo como te conheço, não entendi. Qual a vantagem?

Sempre sorrindo, ele me contou o terceiro segredo de Fátima.

– É que o ponto é bom.

Agora vocês entendem o mecanismo do poder subterrâneo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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