O picadinho metido a besta
Graças a Deus, parece que estamos chegando ao fim da ditadura do petit gateau. Qualquer lugar que se ia nos últimos anos lá vinha a tradicional sobremesa francesa, que muitas vezes era mais gateau. Petit sim, dentro da cultura “onde estás que não te vejo”. Aqui e acolá ela ainda sobrevive e assim será até algum dia o cliente quebrar o prato em protesto.
O que virá em seguida não sabemos. Mas não é de largar foguetes, porque ainda temos o dulce de leche em tudo e a ditadura dos doces que levam leite condensado. Coloca-se leite condensado até mesmo em doces “portugueses” que não têm nenhuma intimidade com ele. O povão gosta demais da redução de leite de vaca com mais açúcar que a produção inteira nas refinarias brasileiras por um ano. Me admira que não ponham na sopa.
O Rio Grande do Sul é um estado engraçado. Quando encanzina com um prato ele é servido ad nauseam por anos e até por décadas. O humilde estrogonofe, encontrado hoje em qualquer pé-sujo de prato feito, já foi comida de elite, acreditem. Nos anos 1960 e 1970, era prato de casamento chique, e as comadres arregalavam os olhos dizendo “nossa, tinha até estrogonofe”.
A moda seguinte quase paralela com o estrogonofe, ou picadinho metido a besta, como dizíamos, foi fricassê de frango. Só era servido em restaurante chique ou festa de casamento. Não por nada que até hoje prefiro a duríssimas bolachas de galpão se me vierem com esse frango retalhado e enterrado debaixo de uma tonelada de batata palha. Nem um frango Houdini conseguira sair dela.
E via o PF. É sempre a mesma coisa, mas a gente não enjoa. Será ternamente servido no Reino dos Céus.
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