O PIB sexual (I)

17 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em O PIB sexual (I)

 O PIB, Produto Interno Bruto, é a soma de todas as riquezas geradas por produtos ou serviços de um país. Embora o termo PIB seja recente historicamente falando, nos anos 1960, eu criei um parâmetro para avaliar a riqueza de uma cidade: a zona. A zona de meretrício, com seus cabarés muquiranas ou grandiosos, fruto das minhas viagens para o interior.

 Como Capital, Porto Alegre sempre foi uma espécie de Estados Unidos em matéria de compra e venda de sexo, os famosos cabarés. Porém, era como renda per capita, que pode ser enganosa, porque tínhamos desde espeluncas ordinárias em ruelas e becos mal afamados até casas como a Mônica e, antes dela, o que eu chamo de meio a meio, metade casa de mulheres da vida – as trabalhadoras do sexo, como quer a esquerda – e metade casa de shows, que podiam ser assistidos por casais. Às vezes, uma metade entrava na outra, se me faço entender.

 Como as casas tinham quartos próprios, os motéis eram poucos. Afora os mais escondidos que células terroristas, de conhecimento popular, havia apenas a Marli e o Botafogo. A primeira virou até nome de viaduto da Marli, oficialmente Viaduto Dom Pedro I, na Praia de Belas. O Botafogo, na rua de mesmo nome, prospera até hoje. Obviamente é lenda, mas contam que um empresário, forte cuja empresa não gerava o lucro que dela se esperava, saiu com seu carro por aí, sem destino. E sozinho.

 Para que a empresa não ficasse acéfala de todo, combinou com seu sócio que mandaria um fonograma (sim, crianças, tinha disso) com o endereço quando achasse um lugar sossegado. Depois de muito rodar, achou que o Motel Botafogo seria uma boa. Pediu um quarto, deram a ele o número 28. Silencioso, isolado, perfeito para se esconder da vida. Ligou para a portaria e pediu que mandassem um fonograma para o mano dando o endereço: Botafogo 28.

 No dia 28, o sócio botou fogo na empresa.

 (CONTINUA AMANHÃ)

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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