O para-choque e seu tempo

16 ago • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em O para-choque e seu tempo

Ao comparar o Brasil de hoje com décadas passadas a saliência que se destaca é como era calmo o país e como ele é apresado hoje. Se ainda fosse pressa de melhorar, tudo bem, mas é uma pressa inconsequente ditada por quem nos comanda: o consumo. O divisor de águas ou um dos divisores foi o fim da filosofia nos para-choques de caminhão.

DIVERSÃO DE CAMINHONEIRO

Embora a frota tenha aumentado exponencialmente, não há mais a calma de fazer graça ou tentar fazer graça com esse recurso pictórico. “Feliz era Adão que não tinha sogra nem caminhão”, “A terra é virgem porque a minhoca é mole”, o inevitável “Guiado por mim mas dirigido por Deus” eram pule de dez. Eu acho que os nordestinos eram mais criativos que os gaúchos. Seja como for, terminou-se o que era doce e foi um marco regulatório para a velocidade da nova vida digital.

…E DO POVO

Fazia parte da cultura popular olhar para o para-choque assim que se avistava um caminhão. Ríamos às bandeiras despregadas quando aparecia um chiste novo. E tinha que ser criativo para escrever uma frase inteira em um espaço curto, tanto que algumas oficinas de beira de estrada ofereciam esse serviço.

SEU WERNER SABIA DAS COISAS

O que ilustra bem a cultura da correria é um enunciado de 1929, aplicado na Física Quântica. É o Princípio da Incerteza de Heisenberg (Werner). Sem usar o fisiquês, diz que se pode medir a velocidade e a posição de certas partículas subatômicas, mas nunca as duas ao mesmo tempos. Ou a velocidade ou a posição. Faz todo sentido mesmo na vida prática. Até no jornalismo.

ZORRA TOTAL

Heisenberg deveria conhecer o sistema atual de recolhimento de informações dos repórteres. Eles ouvem, anotam, e, ao mesmo tempo, compartilham no Twiter, Face, postam vídeos e gravam textos de rádio da empresa jornalística em que trabalham. Agora, modestamente enuncio o meu princípio aplicado ao jornalismo.

O MEU PRINCÍPIO

A la Heisenberg ou perto dele, asseguro-vos que ou você ouve o que o entrevistado está dizendo ou anota. Em termos de precisão, não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. É igual a uma definição jocosa da Arma da Infantaria para seus colegas da Cavalaria: serviço rápido e mal feito.

QUEM CONTA UM CONTO…

…aumenta um ponto, diz o brocardo. Se Gutenberg vivo fosse e vivesse o dia a dia de uma redação, ficaria espantado com as imprecisões entre a coleta da informação e sua publicação, seja em qual meio for. Mesmo no rádio, é comum descontextualizar as falas. Resulta naquilo que o Capitão sugere que se faça dia sim dia não.

Ô CRISE BOA!

O temor mais que fundado de uma recessão global não é coisa ruim para o capitalismo. Claro que haverá choro e ranger de dentes e perdas gerais, mas nada pode subir para sempre, seja a bolsa ou commodities ou a economia como um todo. Um dia, a casa precisa cair para que se construa outra no seu lugar. Desde que a lição seja aprendida, evidentemente.

O CAMINHÃO DAS MELANCIAS

É um exemplo clássico, a freada acomoda as frutas na carroceria. O diferencial neste milênio doido, varrido e encerado é que tudo flutua na internet e dorme na nuvem, quase nada está ancorada em algo sólido. Olhando de cima e com essa visão colada no seu para-brisa, essas criptomoedas estão em situação pior que ativos reais. Elas não existem. A única coisa que as mantém é a confiança. E crises sempre são de confiança.

O BRASIL QUE FUNCIONA

Será realizado hoje o VI Simpósio de Processo Civil, uma parceria entre o IARGS e a ESA/RS, das 9h às 18h, no auditório Cubo da ESA-OAB/RS.

Tema geral: Inteligência Artificial e o Processo – O Futuro dos Tribunais

Mais informações no telefone: (51) 3224-5788.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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