O papagaio mau caráter
Ontem contei a história da galinha Passionária, galináceo que bebia cerveja e morreu de cirrose. Nem ovo botava mais, de tão pingunça que a ave se tornou. Animais com comportamento humano não são incomuns. Uma amiga tinha um pinscher gay – com todo o respeito pela opção. Parece que morreu de overdose. Um amigo de nome João ganhou de presente um papagaio dedo-duro. Bem, ele não nasceu assim, a mulher dele que o transformou num tremendo mau caráter.
O meu amigo sempre chegava tarde em casa, sempre. Na verdade, de madrugada. Ser publicitário, nos velhos tempos, era batalhar pelo cliente dia e noite. E para aguentar o tranco, bebia-se uísque. Como refresco, cerveja. Em vez de sobremesa, a docinha Malzbier. Era comum chegar em casa molhado por dentro. Certo dia, a perpétua pediu um papagaio.
– É para me servir de companhia. Quero ensiná-lo a falar – explicou.
Meu amigo achou um deu a ave à mulher. De brinde, veio um poleiro com correntinha reluzente. Passaram-se dias, semanas, e cada vez que ele chegava em casa cheio de mé, deparava-se com o psitacídeo mudo em cima do poleiro na sala.
– Como é? Essa figura não vai falar nunca?
– Calma benhê, leva algum tempo – falou a distinta.
Algum tempo depois, ele chegou adernado em um ângulo de 45 graus, prestes a sucumbir à lei da gravidade.
– Como é? Não vai falar nunca?
O papagaio abriu o pouco de asas que lhe restaram.
– João é um gambá! João é um gambá!
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