O padre-poeta
Por vias transversas, conheci em um passeio de barco no Pantanal, a vida e obra do padre cearense Antonio Thomaz Lourenço (1868-1941). Seus poemas e sonetos são extraordinários. Tinham temas profanos como prostitutas, palhaços, figuras do povo, seus usos e costumes. O seu tom era quase sempre de amargura, e assim ele morreu.
A Santa Madre o detestava, obviamente. Pouco antes de morrer, deixou um testamento, que, em uma das cláusulas, pedia que que seus poemas nunca fossem reunidos e transformados em um livro. E assim é até hoje, embora muitas das suas obras apareçam em antologias. “Quero ainda que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura seja reposta no mesmo plano ficando debaixo do chão, e que não se ponha em tempo algum, sobre ela, nome, data, inscrição ou qualquer sinal exterior que a faça lembrada”. Esse pedido o Ceará não obedeceu, felizmente.
Admirem uma amostra da sua sensibilidade. Sem maiores explicações, porque o soneto delas prescinde.
Contraste
“Quando partimos no verdor dos anos
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidadosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,
O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás!”