O novo Canal do Panamá

3 fev • ArtigosNenhum comentário em O novo Canal do Panamá

Na semana passada, postamos um texto sobre o novo Canal. É que com voos decolando de Porto Alegre, abriram-se opções de visitas, férias e passeios sem passar pela balbúrdia dos aeroportos de São Paulo e do Rio. Não sei se, no turismo, o novo Canal terá alguma influência. Certamente terá, no tráfego de grandes navios vindos da Europa e no Coast to Coast americano, Japão, sudeste asiático etc.

Volto ao assunto porque já passados uns seis meses da notícia, a imprensa brasileira calou. Sabe-se que será na Nicarágua e deverá trazer mudanças para a navegação. Não tão grandes como as do primeiro Canal, mas principalmente, porque grandes barcos poderão fazer embarques diretos, sem transbordos.

O Canal projetado perto do atual poderá mudar algo na navegação sul-americana como fez o primeiro Canal, não creio. Convém lembrar que os franceses do Engenheiro Lesseps já haviam aberto o de Suez, a pá e picareta, pequenas explosões e os quase famintos “fellas”. Mas, para um povo descendente dos que construíram pirâmides e a esfinge, não deve ter sido tão difícil.

Na América Central, apareceu um outro inimigo: o mosquito. Que agora está azucrinando a nós e ao mundo. Sei que é irônico, mas é, depois dos políticos desonestos, o nosso grande inimigo atual. Todos contra um mosquito, e foi um mosquito que levou à falência a grande Companhia do Canal. Transmitia a malária e é o mesmo Aedes aegypti. O tempo passou e o tio Sam tomou conta da obra e abriram o Canal que funciona há 100 anos.

Hoje, mais de um século depois, com a malária controlada e decididos a disputar a primazia mundial, surgem antagonistas dispostos a abrir outro Canal a uns 300 quilômetros ao norte: na Nicarágua. Bem, mas por que abrir outro se o primeiro ainda tem tempo livre e espaço de sobra? Aí é areia demais para a minha Vemaguete, e só quem pode responder são os “players” atuais: os chineses.

A atual ausência de notícias obviamente deve-se às incertezas do mundo e não ao desinteresse dos jornalistas. Dúvida 1: com o petróleo a 30 dólares, ainda vale a pena tentar? E já há estudos de como ficará o mundo com o petróleo a 10 dólares?

Dúvida 2: e se a energia limpa continuar nessa evolução tão rápida? O que faremos depois com tanker’s de 300 metros de comprimento? Provavelmente o mesmo que alguns gênios? Pensaram ou não pensaram ao desembolsar dinheiro nosso, dos nossos impostos construindo “arenas” em lugares sem futebol. E até com futebol, pois o Maracanã em pleno Rio está dando prejú.

Vantagens de prestígio político vêm em primeiro lugar. A China pretende e se prepara para assumir a hegemonia mundial, mesmo com seus problemas internos. Segundo, obtiveram o imediato apoio dos russos, que com o Putim, buscam a reconquista do império perdido (ele já começou, como você sabe) faz e fará qualquer coisa que antagonize os EUA.

Vantagem russa, é que pelo novo Canal passarão navios gigantescos que transportam os dois únicos produtos que a Rússia exporta em quantidade (além de armas), petróleo e gás em “tanker’s” que não cabem entre as comportas do Canal existente. E os chineses financiadores e executores da obra poderão receber e fornecer ao terceiro mundo, a preços melhores, minérios que transformarão em matéria prima para sua enorme indústria, já que tudo hoje é “made in china”.

Os desentendimentos com a Europa, EUA e Canadá são comuns, os Russos querem o apoio e o fornecimento de produtos que o terceiro mundo tem de sobra, e sabem que seus capachos ideológicos aceitam e aceitarão o pagamento em armas, tanques, foguetes etc. É uma pergunta a quem não é vermelho de carteirinha, você já viu algum outro produto industrializado russo à venda no mercado internacional?

Os russos aliaram-se imediatamente aos chineses no interesse pelo projeto, aliás, aliam-se automaticamente a tudo que possa antagonizar os EUA. A nossa carne, por exemplo, até pouco tempo “não tinha o padrão exigido pelo consumidor russo”. Bastaram as restrições europeias e canadenses para que ela passasse a ser de primeira, e com louvor (sorte nossa).

É que a Rússia, o maior país do mundo e com menos de 150 milhões de habitantes, não consegue produzir a sua alimentação.  Ainda não conseguiram se recuperar dos planos quinquenais do passado, e daí o seu interesse pelas férteis terras da Ucrânia. É claro que você lembrou do filme do “Dr. Zivago”, já pensou que o frio impede uma produção melhor, isso poderá até manter a sua tese na roda de chope na esquina, especialidade da esquerda.

Mas eu gostaria que você lembrasse, antes que alguém o conteste, que também é verdade que existe um país chamado Canadá. Tão frio quanto a Rússia. E é sempre o primeiro ou o segundo em produção e exportação de cereais.

Quanto ao Canal Sino/Nicaraguense, vamos ter que esperar. Primeiro, é bem mais longo; segundo, as comportas deverão ter ao redor de 35 metros, uns 25 a mais que as do Canal existente, o que deve ser fácil, se lembrarmos que o do Panamá já completou um século.

Por ali passarão “tanker’s” de quase 300 metros com petróleo. Ótimo até para nós (bata na madeira como eu estou fazendo), pois estaremos afastando um possível acidente aqui pelo extremo sul, mas por outro lado, um barco de 300 metros cheio de chinoiseries assusta também.

Foto: iStock

Flávio Del Mese

Flávio Del Mese nasceu em Caxias, mas tem quase certeza que sua cegonha passou a baixa altura e foi abatida. Isso frequentemente acontece com quem voa por lá, sejam sabiás, tucanos, corujas ou bentevis, mas não tem queixas. Foi bem recebido tanto na infância quanto na juventude, assim como em Porto Alegre, onde chegou uns 15 anos depois, já sem cegonha e a cidade o embala com carinho até hoje. E ele sabe do que fala, pois conhece 80% dos países do globo. Na Europa só não esteve na Albânia, da América só não conhece a Venezuela (prevendo quem sabe, que do jeito que vamos, em breve seremos uma Venezuela). Na Ásia, não passou pela Coréia do Norte e pelo Butão, mas à China foi 6 vezes e também 6 vezes esteve na Índia, sendo que uma delas deu a volta no país de trem, num vagão indiano, onde o até hoje, seu amigo Ashley, tinha uma licença para engatar o seu vagão atrás das composições cujos trilhos tivessem a mesma bitola. Sua incrível trajetória de vida é marcada por uma sucessão de acasos que fizeram do antigo piloto da equipe oficial VEMAG (vencedor de 5 edições de Doze Horas), em um dos fotógrafos mais internacionais do Brasil. Tem um acervo de 100 mil fotos- boa parte delas mostradas nos 49 audiovisuais de países que produziu e mostrou no Studio durante 20 anos e que são a principal vitrine do seu trabalho (inclusive o da volta na Índia de trem). Hoje dedica-se a redação e atualização dos Blogs Viajando por viajar e Puxadinho do Del Mese com postagens sete dias por semana.
Extraído de reportagem:
Ademar Vargas de Freitas
Clóvis Ott
Juarez Fonseca
Marco Ribeiro

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