O nhoque da pomba
Vou confessar uma coisa: nunca fui muito do nhoque. Como, mas não me ajoelho na frente do prato. Tem esse nhoque da sorte que os restaurantes oferecem, acho que nas quartas-feiras. Gostaria que alguém me mostrasse quanta gente que comeu nhoque da sorte ganhou a Mega acumulada na mesma semana, foi promovido na empresa ou ganhou uma herança de tia que você nem sabia que existia.
Sorte, que eu saiba, tem é o dono do restaurante por ver tanto freguês comendo nhoque. Certa vez, quando ainda acreditava que os meninos nasciam de repolhos e as meninas de rosas, estava comendo um nhoque da sorte levado por um tio que também acreditava em humanidade, bondade, essas coisas, quando a filha do dono da casa começou a me olhar fixamente. Olha só, olha a sorte, um rapazote de 15 anos atraindo uma maravilha de 20. Que nada. Olhei para trás e vi um mendigo na porta, o olhar com brilho assassino era para ele.
Certa feita estava eu esperando os jornais do Rio e São Paulo sentado no banco da Praça da Alfândega, ao lado da banca Vera Cruz, quando senti algo desagradável pousar no meu ombro direito. Era cocô de pomba, e dos graúdos. Um velhote sentado ao lado viu a cena.
– Você sabia que cocô de pomba dá sorte? Espere um pouco e depois me diga se não tenho razão.
Enquanto limpava a merdolência senti algo aterrissando no meu outro ombro. Era outro cocô, só que desta vez não vi o modelo do passarinho. Deveria ter entrado no Guiness de Recordes. Dois cocôs aéreos em minutos não é para qualquer um.