O naufrágio do restaurante (final)
Restaurado, surgiu um problema oposto no Restaurante Dona Maria: passou a enfrentar alagamentos a cada chuva mais forte, coisa de uns 20 centímetros de água, um horror. Quando isso acontecia, o fleumático Ernesto não saía da mesa, só pedia um engradado vazio de cerveja e nele botava os pés. E ali ficava como se um Buda austríaco fosse.
Certa noite, veio um toró dos diabos. Minutos depois, a casa quase boiava, a maioria dos clientes se mandou. E seu Ernesto e eu sentados sem dar pelota para o dilúvio, comendo salsicha bock e queijo Port Salut.
Foi então que ouvimos um barulho esquisito vindo do fundo, um chap-chap-chap de alguém caminhando com água pelos tornozelos, quase aquaplanando. Era o médico. Veio direto em cima do Moser e então falou com carregado sotaque nordestino.
– Então, seu Ernesto, quer dizer que depois de pegar fogo, a casa agora vai a pique?
Dito isso voltou para a sua mesa e para seu harém, fazendo chap-chap-chap de novo. Silêncio. Sempre que conversava, o austríaco Moser tinha o cacoete de pegar um palito e bater nele com o paliteiro, à guisa de martelo. Pois depois de ouvir essa, o palito só não ficou cravado na mesa de madeira porque quebrou antes.