O meu pinheirinho

24 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em O meu pinheirinho

O presente de Natal que eu queria não há Papai Noel que me traga. Eu quero de volta minha meninice em São Vendelino, o meu cantinho que eu chamava de felz (rocha), um remanso do arroio Forromeco. Eu queria de volta meu cachorrinho Tupi, meu querido companheiro nas horas alegres, das fantasias de safári, de explorador intrépido pele Curdistão bravio, meu amiguinho que lambia meu rosto com os olhos sorridentes, o que eu devolvia em afagos com juros e correção monetária.

Quando eu chorava, refugiava-me na Rocha, a poucas dezenas de metros de uma represa artesanal construída por iniciativa do meu tio Sireno Selbach, onde eu e meus primos nos banhávamos. Minha linda represa que uma enchente levou há anos.

Eu queria de volta meus brinquedos improvisados, o “revólver” feito com a raiz da mandioca que, nas minhas fantasias, tinha munição inesgotável. Eu queria de volta o moinho colonial onde eu comia farinha de trigo e arroz cru.

Eu queria de volta as histórias de Natal contadas perto do pinheiro com presépio no pé, um espelho deitado e cercado por barba de pau fazendo as vezes de um laguinho. Eu queria de volta minha bicicletinha de três rodas, onde coloquei botões de armário à guisa de faróis. Eu queria de volta as rabanadas de pão de milho que minha mãe fazia, eu queria de volta meus amigos do Grupo Escolar, as brincadeiras feitas no potreiro lomba acima, ao lado da escola.

Eu queria de volta a nossa casa, a venda do meu pai, a prensa de alfafa movida por um burro, o cheiro da terra molhada e o barulho da chuva caindo no zinco. Eu queria de volta até um lagarto que ficou meu amigo porque mansinho era e dele eu não tinha medo.

Eu queria de volta minhas pitangueiras da ilha pequena formada por um braço do córrego que movia o moinho. Eu queria de volta meus pais e irmãos por quem eu ainda choro mesmo passados todos estes anos.

Sobretudo, eu me queria de volta, mas é impossível. Eu desapareci.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »