O lorde do roupão
Entre os vários personagens da Porto Alegre dos anos 1970 e 1980 havia um senhor distinto de meia idade, aparentando ser um nobre desgarrado. Sempre de terno e gravata caprichosos, tinha até um roupão com o anagrama da família.
Na época, integrantes da famosa Mesa Um do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, iam para a Sauna Guaíba após lauta refeição às sextas-feiras. E sempre o víamos lá com seu roupão inglês. A bem da verdade, não era uma sauna do tipo que vocês estão pensando, era sauna mesmo. O cara parecia um lorde. Era conhecido como Bom Marido. Dizia que era estancieiro forte.
Certo dia, ele sumiu. Alguns meses depois reapareceu com uma história a tiracolo. Contou que conhecera uma bela fazendeira e, depois dos arrufos iniciais, foram morar juntos em um pequeno apartamento na cidade, convicto que a partir dali viveria com o burro na sombra. Para todos os efeitos, ele era um homem de posses. Semanas depois, a ficha caiu.
Estavam os dois jantando e bebendo a última garrafa de vinho bom no apê com poucos móveis, quando a cruel realidade veio à tona. Ela ergueu a taça.
– Me enganei.
Ele também levantou os taça.
– Eu também.
Fortunas, quando são falsas, desaparecem em seguida.