O lorde do roupão

16 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em O lorde do roupão

Entre os vários personagens da Porto Alegre dos anos 1970 e 1980 havia um senhor distinto de meia idade, aparentando ser um nobre desgarrado. Sempre de terno e gravata caprichosos, tinha até um roupão com o anagrama da família.

Na época, integrantes da famosa Mesa Um do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, iam para a Sauna Guaíba após lauta refeição às sextas-feiras. E sempre o víamos lá com seu roupão inglês. A bem da verdade, não era uma sauna do tipo que vocês estão pensando, era sauna mesmo. O cara parecia um lorde. Era conhecido como Bom Marido. Dizia que era estancieiro forte.

Certo dia, ele sumiu. Alguns meses depois reapareceu com uma história a tiracolo. Contou que conhecera uma bela fazendeira e, depois dos arrufos iniciais, foram morar juntos em um pequeno apartamento na cidade, convicto que a partir dali viveria com o burro na sombra. Para todos os efeitos, ele era um homem de posses. Semanas depois, a ficha caiu.

Estavam os dois jantando e bebendo a última garrafa de vinho bom no apê com poucos móveis, quando a cruel realidade veio à tona. Ela ergueu a taça.

– Me enganei.

Ele também levantou os taça.

– Eu também.

Fortunas, quando são falsas, desaparecem em seguida.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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