O leite salvador
Sim, meu povo, houve tempo em que as estatais funcionavam muito bem no Rio Grande do Sul. Talvez pudessem funcionar melhor se fossem privadas, mas nunca saberemos. Uma delas era o Departamento Estadual de Abastecimento de Leite, o DEAL, que também fabricava ótimos queijos e uma manteiga sensacional.
O leite vinha em garrafas de vidro selado com uma capa de alumínio. A distribuição para bares, restaurantes, padarias era feita em engradados de metal, colocados cedo de manhã na porta ainda fechada dos estabelecimentos. Nas residências, era colocada junto à porta. Eram raríssimos os furtos. Para dizer a verdade, eu tirava um do engradado que ficava na porta da redação da Zero Hora quando era na rua Sete de Setembro.
Não pensem mal deste pobre marquês, porque o dono do minibar da Zero sabia e eu o pagava por semana. No final do dia, os engradados com as garrafas de vidro eram colocados na porta, para recolhimento posterior dos caminhões do DEAL.
O leite do DEAL salvou minha vida e impediu que eu morresse subnutrido. Eu trabalhava em um banco (da Província) toda a tarde, ia para casa cochilar duas horas e depois emendava direto como repórter policial da madrugada até as 6h/7h da manhã. No caminho para a Faculdade de Jornalismo, bebia o leite todo. Não dava tempo para comer um lanche. E se desse, o dinheiro era escasso. Mesmo assim, foram tempos ótimos.
Éramos jovens, então.
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
