O lado ruim dos bondes
Todos nós curtimos o passado e temos saudades da Porto Alegre dos anos 1950 até o final dos 60, mas a verdade é que tudo tem um lado não glamoroso. Tenho por mim que nossa saudade é porque éramos jovens, então, e suspiramos pelos bondes nossos de cada dia. Na verdade, eram trambolhos barulhentos que seriam inadmissíveis hoje. Com suas rodas de ferro acordavam até defuntos da lomba do Cemitério. Já havia tecnologia para emborrachá-las, mas custava caro. E como todo estatal, não gerava renda para investimentos maiores.
Observem na foto como os “elétricos” ocupavam toda a extensão da rua. Como não havia portas, os quatro acessos eram livres para a entrada e saída dos usuários. Os carros que vinham atrás tinham que parar a cada parada e esperar o embarque/desembarque dos usuários. E como a falta de energia era uma constante diária, os bondes trancavam o fluxo. Era um martírio extensível para os passageiros.
Só quem viveu na época sabe como apinhava gente nos bondes. Na hora do rush, até um micróbio via dificuldades para se esgueirar. Você precisava se mexer pelo menos duas paradas antes da sua para chegar a tempo nas portas sem portas. Que, por sua vez, tinham dependurados cerca de meia dúzia de PINGENTES, como eram chamados os que davam chance para o azar. Que era frequente, por sinal.