O lado B
Se algum amigo ou parente do estrangeiro pedisse que eu o ciceroneasse na sua primeira visita a Porto Alegre, meu primeiro sentimento seria de pânico. Caraca, como é que eu vou explicar para ele que essa cidade, que já foi a Cidade Sorriso, hoje está banguela, faltando dentes, e os poucos que restam estão cariados?
Faria uma operação de guerra. Primeiro, eu mostraria as coisas ruins da amável cidade que eu vivenciei durante décadas e que hoje está tal e qual um sem-teto, para depois mostrar o lado bom. Mostraria as favelas, os barracos equilibristas, a entrada da cidade, e na Castelo Branco, percorreria ruas esburacadas. Coisa que nem precisa fazer um roteiro prévio, é só seguir em frente ou dobrar qualquer esquina. Depois, eu o levaria ao Centro Histórico, onde seguramente ele teria um choque ao ver minifavelas em todos os cantos, os ambulantes que não ambulam e os camelôs, marquises coalhadas de sem-teto.
Só depois de mostrar nossos dentes podres, eu o levaria para lugares de excelência que temos, vistas, monumentos ainda não pichados, a Redenção, os nossos restaurantes e cafeterias tocadas no capricho. Mas me assola agora a dúvida atroz trazida pelo antigo provérbio de que a primeira impressão é a que fica. Então, pensei em inverter a equação, mas quanto mais eu penso mais a cruel dúvida se aprofunda.
O pensamento mais radical que assomou foi o de não trazer esse hipotético turista ou parente que nunca veio para a Capital gaúcha.