O gato alemão
O depósito de uma multinacional alemã de alimentos estava sendo devastado pelos ratos, causando enormes prejuízos. Nenhuma armadilha, nenhum veneno, nem mesmo porte manejado por caçador de rato dava cabo da praga. O segredo da sobrevivência era o chefe dos roedores, malandro como ele só.
O presidente da filial brasileira contratou gatos de uma milícia da favela, mas não adiantou. Exigiam e recebiam propina. Cansado de levar mijada da matriz, o executivo encomendou um gato alemão da mais fina estirpe. Figurava até no Guiness. Veio ao Brasil na primeira classe do 747 da Lufthansa. Na janelinha, como pediu. Apresentou-se ao patrão.
– Seguinte, herr Katze. Você tem uma noite e a madrugada para matar esse ratão chefe. Se, ao raiar do sol, ele não estiver morto você vira pandeiro na Rocinha.
O gato assentiu gravemente. Largaram o gato no enorme depósito com sua missão a cumprir. Foi uma saranda. A rataiada deu até olê no bichano, orientada pelo esperto chefe. O caçador sabia que, uma vez morto o líder, o resto fugiria para o morro para nunca mais voltar. Assim, conseguiu isolar o chefão num canto, que sentiu a truta e se homiziou entrando naqueles buraquinhos de desenho animado. Dali não saiu. E o gato alemão miava, enfurecido. Dez horas, meia-noite, cinco da madrugada, sol quase apontando, e o impasse continuava.
Mas ninguém chega a gato alemão sendo burro. Pensou: cachorro não gosta de gato que não gosta de cachorro. Então parou de miar e começou a latir. Certo que a inesperada entrada de um cão havia espantado o alemão, o tato saiu da toca e foi imediatamente devorado.
Moral da história: se você trabalha em multinacional e não fala duas línguas está ferrado.
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