O fim do corpo humano

7 ago • Caso do DiaNenhum comentário em O fim do corpo humano

 Antes restrito a carros importados de primeira linha, os dispositivos que dispensam o motorista para estacionar em vagas agora ganham modelos de custo bem menor. É a escala que permite a redução de preço. Também estão disponíveis modelos que dispensam a direção, o carro é guiado pelas faixas demarcatórias da pista nas rodovias e/ou pelo carro à frente, mantendo sempre uma prudente distância. A Volvo foi pioneira em carros seguros, e, nos modelos mais novos, os computadores calculam até a chance de um veículo vir na diagonal e acertar o seu em cheio, então freiam automaticamente. A condução autônoma vem logo, logo. Alguns carros como os da Mercedes saem do estacionamento a trafegam até 150 metros e param na sua frente.

 Tudo isso é muito bonito, mas o efeito colateral é tenebroso. Quanto mais automatizados os automóveis, mas imperícia no volante, que é uma das duas principais causas de acidentes. Não saberemos mais estacionar nem com uma quadra inteira à disposição, o que dirá em vaga demarcada. Perderemos, ao longo do tempo, a capacidade de reação nas rodovias, o reflexo que levamos uma vida inteira na direção para desenvolver.

 Usamos cada vez menos nossos membros. Quase não conseguimos mais mexer o nariz, já perdemos o controle das orelhas para ver de onde vêm os predadores ou o perigo, nem mesmo vidro de carro abrimos ou mudamos de canal na TV e assim vai o crescente atrofiamento dos nossos membros. O esforço físico será mínimo, então seremos uma bolinha com bracinhos e perninhas sem serventia nenhuma. Nem para coçar o saco ou ajeitar o cabelo. Sentados em meio de uma floresta de computadores, alguns dentro do nosso corpo, finalmente a humanidade chegará ao seu ápice físico.

 O Jabba the Hutt do Star Wars.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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