O dia em que a Terra parou
Tragédia mesmo eu vivi quando estava no Jornal Gente da Rádio Bandeirantes. Certa manhã, pedi um táxi para me deslocar para o Morro Santo Antônio. Entro no carro e o motora pergunta:
– Pra onde vamo?
O sotaque era de alguma região que podia ser a Serra. Falei Bandeirantes, cujo endereço até as antas conhecem. E ele, com a mão direita na orelha:
– Hein?
Surdo. Meu dia de sorte pelos passarinhos que nunca matei.
– Me ensina o caminho.
Credo. Pega a Oswaldo Aranha, eu disse, que ficava a duas quadras dali.
– Hein?
Mein Lieber Gott. Ensinei. Duas vezes, porque da primeira ele não entendeu. Pega a Ramiro Barcelos logo adiante. Ó que dia maravilhoso!
-Hein?
Ensinei. Duas vezes por causa da surdez. Atravessa a Ipiranga e vai até o fim da São Luís.
– Hein?
Botei o volume no máximo e repeti a ordem. Ele não sabia. Pior, parava nas esquinas mesmo estando na preferencial. Em chegando na rua São Luís, pedi que ele seguisse até o fim, que termina na Luiz de Camões, dobrasse à direita e subisse a lomba. Ele parou no sinal verde da esquina com a Bento Gonçalves.
– Para onde vamo?
Em resumo, depois de vinte “hein?” e uns dez “pra onde vamo?” chegamos na frente do enorme prédio da Band, na Delfino Riet. E ali não tem erro.
Não é que o cara ainda me passa do portão de entrada?
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