O corte cadete

7 fev • A Vida como ela foiNenhum comentário em O corte cadete

 Cortar cabelo e fazer a barba em salões já foi muito mais complicado, embora o essencial seja da mesma forma. Peguei o tempo das máquinas de cortar cabelo manuais, que o fígaro sempre achava um jeito de puxar um fio sem anestesia que doía bastante. Tesoura e pente são eternos. Nos meus tempos de guri, não era nada agradável ir a uma barbearia. Doía, pinicava, aquela lâmina de barbear aparando o cabelo na nuca era fria e desagradável, e era a frio. Creme de barbear era só para adulto e vê se não te mexe na cadeira, seu moleque!

 Era isso que nós ouvíamos deles. Naquele tempo, como dizia Jesus, pirralho não tinha nenhum direito e muito menos havia o Estatuto do Menor e nem conselho tutelar. Acostumava-nos com a ideia de que piá e um monte de bosta era a mesma coisa para gente de fora da família. Quando muito, dizia para meus pais como eu era engraçadinho e bonitinho, quando na verdade, ele queria é me dar um pontapé na bunda.

 O pior era que pirralho não podia ter cabelo como gente grande. Era cabelo à escovinha tipo milico, o corte apropriadamente chamado “cadete”. Como a grana era curta, o corte cadete mais barato consistia em botar um prato virado para baixo na cabeça e cortar todo o cabelo fora dele. E cortar mais rente que barriga de cobra deslizando em vidro.

 Que tempos aqueles! Onde estavam os direitos humanos quando a gente mais precisava deles?

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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