O colecionador de ossos
Vocês conhecem alguém que fechou uma parceria com urubu? Eu sim. Quase uma joint venture. É o auditor fiscal Abel Ferreira, diretor do Sindifisco-RS. Nos anos 1950, quando o plástico ainda não era onipresente como hoje, ossos tinham grande valor para a indústria de pentes, botões de roupas, puxadores e uma longa lista de utilidades. Então o Abel entrou no ramo de ossos.
Morador de Gravataí, que na época tinha mais mato e campo do que casa, o hoje auditor fiscal recolhia bichos mortos e depositava os restos mortais de bois, vacas e outros animais numa área longe da cidade. Obviamente os urubus vinham de longe para se banquetear – essa ave de rapina sente cheio de carne podre a quilômetros.
Peritos em limpar carcaças, a ponto de não sobrar meio grama de carne ou couro, os lixeiros da natureza deixavam a matéria prima do Abel brilhando, no melhor estilo pobre mas limpinho. Assim que a força aérea terminava o serviço, Abel levava os ossos para seu destino final.
Fico pensando que, naquela época, eu podia estar me penteando com um osso frito da parceria do Abel com os urubus, vejam só.