O cliente
O senhor distinto senta na mesa do restaurante. Ele tem cara de ministro, pensa o maitre, com seus reluzentes botões. Pressurosamente, vai à mesa e estende o cardápio. Minutos depois, o cliente fecha a pesada capa.
– De entrada, vou querer folhas verdes de dólar com molho de derivativos. E vinagre de hedge cambial.
– Pois não, senhor. Prato principal?
– Um bom CDI com molho de fundo de commodities. Metálicas. Também quero uma porção de fundo de renda mista. Acrescente LTN na guarnição de LTN. Um uma porção de CDB.
– Em que proporção quer o fundo?
– Apenas 30% de bolsa. Não estamos na estação, o senhor sabe.
– Sábia escolha, cavalheiro. Temos opções de molho, senhor. Qual seria?
– Tesouro Direto, por favor.
– Sábia escolha. Bebida?
– Treasures com calda de ações preferenciais.
– Perfeito. O senhor é uma pessoa de bom gosto.
Após a refeição, o garçom trouxe a conta. O cliente colocou os óculos com armação Giorgio Armani e colocou várias notas de R$ 100,00. Levantou-se e já ia embora quando o garçom o chamou.
– Sobrou troco além dos 20% do serviço, senhor.
Ele arrumou o nó Windsor da sua gravata.
– Bota na poupança.