O ciclista do peru
Certo Natal, ganhei o tradicional peru de Natal da empresa que trabalho, o Jornal do Comércio. Não havia hipótese de levá-lo para casa antes das 21h. Sua Majestade Peruana podia descongelar, o que não é bom. Para isso inventaram os motoboys, certo? Depende do horário que você precisa de um. Neste dia, não tinha nem em Canoas.
Em desespero de causa liguei para um serviço de bikeboy ou algo parecido. Casualmente, o endereço deles era perto da redação do JC. O cara que me atendeu perguntou qual o documento que teria que entregar.
– Não é documento, é um peru.
– Como é que é?
– Isso que você ouviu. Um peru. De Natal.
– Não é bem nossa especialidade, meu amigo.
Depois de ouvir meus apelos de “pelo amor de Deus me ajuda” ele perguntou para qual endereço era a entrega.
– Meio longe, né? E tem que subir a Garibaldi, sei não…Como nunca carreguei um peru, qual o peso dele?
Menti descaradamente.
– Ah, é bem levinho, um quilo, quilo e meio, por aí. Um pacotinho de nada.
No fim, paguei um tanto a mais e o ciclista levou a bicha. Quando cheguei no meu prédio, quase meia-noite, o porteiro avisou que o peru tinha sido entregue por um cara de bike suando profusamente, e que me desse um recado.
– Ah é? E qual era o recado?
– Doutor, ele me entregou a caixa e disse o seguinte: diz pro seu Fernando que um quilo e meio num pacotinho de nada vai para o diabo que carregue.
Achei justo. Aqui se faz, aqui se paga.
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
