O cavalo fantasma
Cavalo cavalgando por cima das águas, já ouviram falar? Pois aconteceu na maior lagoa da América do Sul, a Lagoa dos Patos, que perde apenas para o Lago de Maracaibo, na Venezuela. Como todo Mar de Dentro que se prese, tem suas lendas e mistérios. Um deles foi vivido por um marinheiro de primeira viagem que comprou um veleiro sem conhecer as manhas, nem da lagoa e nem do veleiro.
Comprou-o por telefone. Certa noite, numa uisqueria chamada Whisky Center, na rua Riachuelo, Porto Alegre, ele fez o comunicado. Perguntei se ele ao menos sabia qual lado ficavam bombordo e estibordo. Doeu. A única vez que saímos foi com motor, do Veleiros do Sul até a ilha do União. Cristóvão Colombo teria morrido de inveja com a proeza Capitão de Curto Curso. Aprendeu na marra, e aprendeu mal. Meses depois, entrou numa roubada. Em um feriadão, encheu o barco de mulheres, bebidas e amigos, pela ordem, e encarou a Lagoa dos Patos.
Má ideia. Horas depois, o barco enfrentou um vento muito forte e encalhou. Ficaram nesta situação uma dia e uma noite. Não tinha bote salva-vidas, o Litoral ficava longe, seguramente uns 200 metros, ninguém sabia nadar bem para tentar buscar auxílio, então o que fazer no meio dessa água toda e fora da rota dos navios? Bateu o desespero. Até uma assombração os ajudou.
Lá de longe se avistava um homem e um cavalo, cavalgando sobre as águas e espalhando água para os lados. Eles não queriam acreditar. O cavaleiro, um guasca pilchado, tapeou o chapéu de beijar santo em parede e falou.
– Algum problema com o barco, rapaziada?
Não era assombração. O taura explicou que dependendo da direção e da intensidade do vento a Lagoa dos Patos “esvaziava”, deixando um bom trecho com não mais que palmo e meio de água. Ou seja, eles poderiam ter caminhado em cima das águas como Jesus para buscar auxílio.
Aliviados, esperaram o vento amainar. A bebida foi toda. As mulheres, nem tanto. Quem pensaria em sexo numa hora dessas?