O caso da cobra
Esse caso do menino de 12 anos que teria sido esmagado por um réptil de grande porte, em cidade gaúcha do Norte do Estado, tem tudo para ser a mais nova lenda urbana, mesmo com o legista descartando a hipótese – o guri morreu afogado e sem sinais de fraturas ou esmagamento. Não demora e vão ver jiboia ou sucuri até no tanque de lavar roupa.
Nos anos 1980, quando eu fazia o Informe Especial da ZH, vivi isso na carne. Começou com um boato de que uma criança teria sido picada por uma cobra no balcão de verduras de um supermercado Real de Porto Alegre, a maior rede da época. Escrevi uma nota sobre o rumor, alertando que não deveria ser levado a sério. Talvez por isso mesmo, a lenda ganhou força e não demorou a se espalhar por cidades do interior gaúcho. Chegou a um ponto tal que o Real teve que publicar a pedidos nos jornais de Santa Maria e de Rio Grande desmentindo o acontecido. Passei a receber telefonemas de diversas cidades dando conta que foi nelas que se deu o caso da cobra.
Comecei a matar a charada perguntando a cada um deles se ele estava junto ou perto do acidente. Nunca estavam. Sempre era algum parente ou conhecido que teria testemunhado o evento, tipo “eu não vi, mas o primo da vizinha, que tem um afilhado cujo pai era estoquista do supermercado, ouviu a história de outro funcionário”. Lenda urbana é um negócio tão sério que as faculdades de Sociologia dos Estados Unidos têm uma disciplina que trata delas.
Ainda mais envolvendo cobra.
Imagem: CABM/Divulgação
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