O carioca
Uruguaianense de nascimento, João Nadir fala até hoje fluentemente o português com sotaque da cidade natal – é sutil, mas cada cidade tem o seu na Fronteira Oeste – e também é fluente em espanhol. Certa tarde, o meu amigo estava na loja de vinhos da rua Padre Chagas quando entrou um carioca, que estava hospedado no apartamento de um amigo comum. O cara era bem o tipo pochto seish, camisa aberta, cordão de ouro, gestos largos e voz alta.
Sem dar chance para alguém mais falar, o carioca primeiro elogiou os gaúchos em geral e porto-alegrenses em particular, o que não era mais que sua obrigação porque não precisou se hospedar em hotel. Sempre gesticulando, mudou dos elogios para as críticas aos Hermanos.
– Se tem gente que não suporto é castelhano! Êta raça mais atrevida e chata, sem noção, sem…
E foi desfiando um rosário de defeitos. A certa altura, virou-se para o João Nadir e pediu sua opinião sobre os argentinos e uruguaios. João Nadir falou mansa, mas firmemente olhando bem nos olhos do visitante.
– Pero señor, nosostros …
O carioca não deixou ele passar de “nosotros”. Em milissegundos já tinha deixado o recinto, rosto vermelho como um sinal fechado em noite de temporal.