O ‘cancelamento’ pode destruir a publicidade

4 dez • ArtigosNenhum comentário em O ‘cancelamento’ pode destruir a publicidade

Por Pâmela Rosa (*)

Que a publicidade não é a mais a mesma, ninguém duvida. Os tempos mudaram e a publicidade faz o papel de acompanhar estas mudanças. As famosas propagandas dos anos 60, com muitos preconceitos, não funcionam mais. E que bom. Demos espaço para campanhas mais inclusivas, lugar de fala para minorias e conteúdo com impacto social além do comercial. E, principalmente, para uma publicidade feita por pessoas com mais representatividade para uma sociedade que merece se sentir mais representada.

Este avanço veio pra ficar. Por mais que saibamos que ainda temos muito a trilhar, a nos desenvolver e aprender, evoluímos, e, sem dúvida nenhuma, crescemos. E só crescemos por meio das lutas por espaço e por vozes que, antes do “mundo digital”, não tinham espaço para exigir mudanças. Infelizmente, porém, nem tudo são flores: ao mesmo tempo, a cobrança por uma publicidade melhor adicionou ao nosso vocabulário o “cancelamento”. Mais que uma expressão, é um sentimento.

Em um mundo tão on-line, tudo que é dito é lido, registrado e, muitas vezes, respondido. A internet passou a ser um território de muitas opiniões, mas de pouca escuta. De falas críticas extremas: ou muito se ama, ou muito se odeia. Atire a primeira pedra quem nunca pensou duas vezes antes de publicar um post com receio de ser julgado por uma frase, por uma simples expressão ou por um ponto de vista. A sociedade, hoje em dia, fala muito e julga mais ainda. Porém, dialoga cada vez menos.

Com as marcas, não é diferente. Pensar campanhas que tragam novas abordagens de discussão é muito importante e, para isto, é essencial termos o máximo possível de diversidade nas equipes criativas. Mas, este medo de falar algo passível de ser mal interpretado pode, sim, paralisar a publicidade. É importante termos em mente que, por trás de ideias, há pessoas. E que pessoas erram e sempre vão construir suas ideias com base nas próprias vivências e opiniões. Mesmo com boas intenções, tentando agregar valor, podemos, sim, falhar: em algum ponto mal colocado, ou uma ideia incompleta, de repente, por exemplo.

Infelizmente, o que pouco colocamos na balança na hora de fazermos os nossos julgamentos é o quanto as ideias são complexas. Que bagagens diferentes trazem repertórios diferentes. E, talvez, durante a construção de ideias, algumas coisas podem acabar passando batido ou serem interpretadas de forma diferente na cabeça de quem cria e na cabeça de quem escuta.

Equilibrar algo de impacto comercial com responsabilidade social não é uma tarefa tão simples quanto parece. O medo do “cancelamento”, pode, sem sombra de dúvidas, gerar uma publicidade mais repetitiva e menos livre: cheia de ideias recicladas e com medo de ousar. Esse nosso comportamento atual de medo de “não nos posicionarmos da melhor forma” periga deixar-nos paralisados e, até mesmo, menos criativos. Nós, publicitários, não podemos permitir tal paralisação. Embora conheçamos limites, precisamos lutar pelas ideias e aceitar que, ao inovarmos, corremos riscos. Porém, temos outra responsabilidade: a de não deixar o medo do julgamento minimizar a nossa criatividade.

(*) Sócia e diretora de criação da agência Batuca, mestre em design pelo PGDesign-UFRGS (2018) e possui graduação em Design pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) (2016). Tem também formação de nível técnico em Programação Visual pelo Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (2010).

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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