O café jurídico
O Café Rihan era a maior lancheria e a cafeteria mais famosa de Porto Alegre. Ficava na Rua da Praia, onde hoje é a Panvel do Calçadão. No período áureo, anos 1970, vendia até cinco mil cafezinhos por dia. Pois foi neste cenário que conto o causo como o causo foi.
Um conceituado advogado da praça, caro pra caramba, tinha um amigo severamente atacado por aquela doença que causa um enorme desconforto quando se tenta abrir a mão. No popular, um pão-duro. Porém, e sempre tem um, quem fazia questão de pagar o café no Rihan era o mão-de-vaca.
Durante a ingestão da bebida, o tal amigo puxava algum assunto jurídico, coisa que o atraía e o entristecia. Pobre na juventude, não podia pagar a faculdade de Direito. Daí que virou empresário.
O advogado gostava de discorrer sobre os assuntos levantados pelo amigo, quanto mais não fosse por saber que ele era um operador de direito frustrado. Isso durou anos. Um dia, o amigo morreu. No velório, puxou conversa com um diretor da empresa do falecido. Ambos não se conheciam. Lá pelas tantas, fechou a cara e saiu bruscamente do velório.
O diretor contou a ele que o patrão nunca precisou contratar advogado para resolver pendengas jurídicas. Explicava que tinha à sua disposição o melhor advogado da cidade, que só cobrava um cafezinho para dar um parecer.