O café das multidões
Cafeterias como as entendemos hoje são coisa recente em Porto Alegre. Já o cafezinho sempre foi uma instituição – e bebida – nacional. O antigo Café Rihan, na Rua da Praia, hoje Panvel do Calçadão, chegou a ter picos de quatro mil cafezinhos por dia na década de 1970, início dos 80. Você tirava a ficha nos caixas e sacava ideias para uma conversa. Neste sentido, cafezinho é melhor que álcool. O desejo de entabular conversa é instantâneo.
Pagar cafezinho para parceiro de papo era meio esquisito. Lembro de fregueses do Rihan dizerem que esse era um favorzinho de merda, porque te obrigava a retribuir. Melhor cada um no seu, era a regra geralmente aceita. Naqueles anos, a Rua da Praia era um palanque plano para políticos na ativa ou na reserva. Formavam-se rodas com conversas às vezes entre rivais, mas sem aquele ódio que se vê hoje. No final, todos iam ao Rihan tomar cafezinho, os originais, em xícara pequena.
Imagino que se fosse hoje, iria aparecer algum chato querendo um selfie. E também imagino que o convidado aceitaria de bom grado. Os seres repugnantes são aqueles que tentam se enroscar nas pessoas fingindo intimidade inexistente. O chato é uma instituição do mal. O cafezinho é uma instituição do bem.
Chatos deviam ser proibidos por lei.