O cabaré que nunca morreu
A velha guarda de Uruguaiana está desolada. Veio abaixo o prédio na rua Flores da Cunha onde funcionou, em melhor fase de sua história, um dos cabarés, seguramente, mais famosos do Rio Grande do Sul, o legendário “Cabaré do Ivo Rodrigues”. Um depoente que viveu os tempos do travesti Ivo, postou um texto que me foi passado pelo ex-prefeito de Porto Alegre Guilherme Socias Villela, que é de Uruguaiana.
“Agora, eu fico pensando: quantos foram soluços, o pranto dos espíritos de fiéis frequentadores que ali permaneceram a cada golpe de martelos, marretas e máquinas que foram derrubando as velhas portas e janelas, pisos por onde passaram e dançaram e amaram, as gurias, os coronéis, os gigolôs, os boêmios, os poetas, músicos? Lá se foram, com as paredes, os segredos, as paixões, as fantasias, os sonhos concretizados e outros desfeitos.”
Villela repassa essa importante notícia vinda na sexta-feira de Uruguaiana que está deixando muitos idosos desolados. Muito deles estão arrumando suas pilchas, incluindo ponchos e malas de garupa, para se dirigir para a argentina Passo de Los Libres. O prefeito está reunido com seus assessores aposentados discutindo decretar calamidade pública, escreve.
Que coisa! Ivo já morreu há décadas, mas volta e meia ainda é notícia. Acompanhado pelas gurias do cabaré, ele desfilava vestido de mulher em carruagem aberta pelas ruas da cidade. Vivo, Ivo só era conhecido na Fronteira Oeste; morto, o Rio Grande todo conhece sua vida e obra.