O burrinho

30 abr • A Vida como ela foiNenhum comentário em O burrinho

Nos meus tempos de aeroclube, em Montenegro, deslocava-me da cidade até ele com um ônibus urbano que ia um pouco além do subúrbio. O motorista era um velhote com bastante idade, e dirigia como um. Usava um boné de motorista daqueles tempos, na realidade, um quépi com aba dianteira de plástico. Um arremedo dos usados por pilotos de aviões.

  Certa manhã, acordei cedo para um voo programado para às 8h. Então, fui para a parada. Esperei, esperei, e nada do coletivo. Dei um pulo até o ponto de largada. Lá estava o motora fuçando no motor. Perguntei o que havia.

–  Não vira o arranque – falou. – Deve ser a bateria.

Pelo barulho, duvidei. Naqueles tempos, era comum falhar uma peça do arranque chamada de burrinho. Quando era essa a suspeita, deixava-se o  carro engrenado e, depois, devia-se empurrá-lo para a frente e para trás. Por mínimo que fosse o deslocamento, bastava para destrancar o burrinho. Era coisa elementar. Então, sugeri ao motorista tentar por aí. Ele concordou, de má vontade. Juntamente com outros passageiros, fizemos o jogo de empurra. Deu certo, para embaraço do condutor. O arranque virou e seguimos viagem. Quando chegamos na estrada atrás da pista , desci, não sem antes ironizar a situação.

–  Quer dizer que trancaram os dois burrinhos?

  Por um bocado de tempo, o ônibus não parava quando era só eu estava na parada.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »