O botão do pânico (final)
Em chegando na casa do meu tio Edgar me descobri desamparado: eu não alcançava o botão da campainha no sobrado na rua Cristóvão Colombo. Estiquei todo o corpo e nem mesmo dando um pulinho conseguia. Meus amigos, confesso que entrei na antessala do pânico. O que fazer, meu Deus, nem gritando alguém me ouviria lá em cima. E, além disso, tinha o fiasco. Eu lá com meus oito ou nove anos e me veio aquela diabrura do destino e de engenharia.
Mc Giwer nem tinha nascido, mas eu fui um antes do tempo. Esvaziei a maletinha na calçada para ela ficar leve e com ela na mão estiquei meu braço até bater no botão. Quando ouvi aquele som estridente, confesso que foi como se fosse a música mais bonita da minha curta vida.
Mas teve um segundo botão do pânico na mesma visita. Na realidade, foi a corda do pânico. Criança tem medo de banheiro alheio, vocês sabem, sente-se desconfortável. Na sua casa você conhece as manhas da descarga, se puxava muito forte ou pouco até abrir a válvula. Lembro que horas depois precisei atender o chamado da natureza. Então entrei, chaveei a porta, sentei, e obrei – sim tem esse verbo. Minutos depois dei por finda minha missão. Estava de calças curtas com suspensórios. Puxei a cordinha da descarga e lá do alto veio o dilúvio do tio Edgar.
Só que deu zebra. A válvula permanecia aberta, a água fluía sem parar. E agora, meu Deus, as minhas primas vão achar que eu estraguei a descarga, me ajuda Nossa Senhora!
Se não foi ela, eu me ajudei. Mc Giwer de novo. Quem sabe uma puxadinha seca no cordão bota as coisas no lugar? Fi-lo. Nada. Puxei uma segunda vez. Nada. Puxei com mais força uma terceira vez. Aleluuia, fechou a droga da válvula.
Nunca um piazote sentiu-se tão orgulhoso de resolver um problema logístico. Eu me senti meio engenheiro, se vocês me entendem.