O bauru da Vandinha
O Hugo e o Elpídio eram os dois garçons seniores do Bar e Rotisserie Pelotense, na rua Riachuelo (olhe a elegância do nome do estabelecimento), em Porto Alegre. O Hugo, xerox do ator Walter Mathau, era comedido, voz grave, andar calmo e que dificilmente se irritava.
Já o Elpídio era o oposto. Baixinho e nervosinho, saltitava entre as mesas movendo rapidamente a cabeça em direção a algum perguntador. Ria facilmente e, então, aparecia um dente de ouro na meia esquerda, mas também tinha pavio curto.
No caixa reinava a Fifa, na cozinha a Vandinha. O dono, João Mariano era um tipo sisudo. Um dia, avisou a Fifa que iria ao dentista e nunca mais voltou nem dele se soube notícia.
Ambos se revezavam para atender a Mesa Um. Certo dia, chamei-o para pedir um bauru. O Hugo se aprochegou mais devagar que carreta manobrando de ré. Bloquinho de comanda, caneta Bic na mão, esperou com ar grave as minúcias do meu pedido.
– Hugo, eu quero um bauru de pão cervejinha, com queijo duplo e bife de filé, um pouco mais que ao ponto, só uma rodela de tomate gaúcho e sem alface, ouviu bem? Alface tem giárdia, quero ficar longe dele. Presta atenção no ovo, Hugo….
E ele anotando.
…manda fritar o ovo até que as bordas fiquem levemente queimadas em toda a volta; a gema não pode ficar dura e preciso ter vocação para escorrer assim que o garfo a atingir. Certo?
O Hugo fez o ponto final com a Bic na comanda, virou-se para a escada que dava na cozinha e gritou:
– Vandinha, salta um bauru!