O barato do Motta

7 jul • NotasNenhum comentário em O barato do Motta

 Aproveitando a onda do politicamente incorreto, reproduzo um texto do meu amigo Paulo Motta, um algoz de obras mal escritas e dos seus autores inalcançáveis pela impunidade que grassa neste país. No melhor estilo Paulo Motta, viva Caramuru! Viva o Arcebispo Dom Sardinha que foi comido pelos índios! Abaixo os detratores de Maurício de Nassau. Não fosse derrotado, o Brasil estaria cheio de tulipas, canais e moinhos de vento – hoje só tem um, e é apenas nome de bairro em Porto Alegre. E viveríamos sem crise. Ou vocês já leram alguma manchete tipo “Holanda em crise”?

SIRNEY, MEU BARATO GAY

Não era, exatamente o bichinho de estimação que eu almejava, mas foi ele quem saiu do armário do meu quarto numa noite densa, em que eu assistia A Noite dos Horrores, filme profundo, em VHS, no meu televisor Colorado RQ. Achei que fosse apenas uma barata envernizada e supimpa, mas era Sirney, o barato gay que saía do armário. 

E só soube que era uma barato quando ele foi, em desabalada carreira, direto à minha lata de cerveja sobre o braço da poltrona e ali se instalou, pensativo, o Sirney. Se fosse uma barata fêmea teria corrido para o meu celular, conferindo as ligações e as mensagens e se chamaria Sirley. Acreditem, de baratas entendo um pouco. 

Temos uma relação tranquila; Sirney sai do armário à noite, liga a tevê pra ver o National Geographic e assistir, pela tricentésima vez, ao Vida de Inseto. Às vezes some e reaparece dois dias depois, com o verniz opaco e antenas danificadas, sem contar as marcas de lutas com marimbondos ou algum sapo voraz. 

Na verdade, eu queria um filhote de sucuri, mas aí envolve o IBAMA e complica tudo, melhor Sirney, o barato gay que sai do armário somente à noite, após o pernoite, de ressaca, com uma fome e tanto, um espanto! 

Descobri Sirney viciado em naftalina, imagina! Por isso tão fiel ao meu armário, sempre cheio de naftalina. Conversamos sobre levá-lo a uma clínica de desnaftalização, mas Sirney reluta. Tento convencê-lo de que isso não é uma vida barata, mas ele é um barato, o ingrato! 

Sirney não liga pra coisas baratas, só pra baratos. 

Beijão carinhoso no tímpano esquerdo de vocês, amiguinhos e amiguinhas.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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