O avião do Mijogaio

7 abr • A Vida como ela foiNenhum comentário em O avião do Mijogaio

O causo de hoje é do meu amigo Davi Castiel Menda. Cá vai:

Entre as décadas de 60 a 80, um dos “patrícios” mais conhecidos do bairro Bom Fim, Porto Alegre, era o Mijogaio. Claro que Mijogaio era apelido; o seu nome não vem ao caso. Além de sua atividade normal, adorava jogar, esse o motivo de o chamarem assim. Mas poucos, mesmo os que o conheciam, sabem da origem do apelido. Vai aí a explicação: quando alguém pretendia apostar, mas apostar qualquer coisa mesmo, seja corrida de cavalos, futebol, eleições, placas de automóvel, se ia chover ou não, e propunha ao Mijogaio e, este concordando com a aposta, respondia, pausadamente, num misto de português, iidishe, espanhol, húngaro: mi joga ió (eu jogo sim). Com o tempo, as palavras foram se aglutinando e transformaram-se em, simplesmente: Mijogaio.

Uma das suas paixões era o turfe. Mijogaio teve vários campeões nas pistas do Hipódromo do Cristal. Eu, sendo cronista (transmiti corridas de cavalo por muitos anos), fui entrevistá-lo, num domingo pela manhã, sobre as condições de determinado cavalo de sua propriedade, que correria um Grande Prêmio à tarde. Evidentemente que o lugar certo para encontrá-lo seria no Bom Fim, mais precisamente no Bar do Serafim, na esquina da Felipe Camarão com Osvaldo Aranha, mais conhecido como Bar Fedor (o famoso Schtink), ponto tradicional de reunião de políticos, milionários, pedintes, boêmios e, principalmente, judeus de todas as classes sociais.

Mijogaio estava numa das tantas rodinhas que se formavam em frente ao bar. Após informar-me sobre as chances do seu cavalo, fiquei por lá saboreando a conversa. De repente, passa uma moça daquelas de fechar o comércio, ficando todo mundo embasbacado. Um dos participantes da roda, mais como diversão, perguntou ao mais idoso da turma como se chamava “aquilo” em iidishe. Após pensar uns segundos, o velhinho disparou uma resposta que, pelo inusitado, é uma pérola:

-Aviónnn.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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