O assalto
Nos gloriosos tempos em que o Centro de Porto Alegre era charmoso, havia três churrascarias com nomes de raças de gado de corte, só na rua Riachuelo. Pois aconteceu que em um certo meio-dia, fregueses de uma delas notaram que a moça do caixa estava aos prantos. Entre soluços, ela contou que fora assaltada. Um criminoso entrou discretamente e foi ao caixa, enquanto outro ficou na porta.
Foi tudo muito rápido, como sempre. O assaltante abriu o casaco e mostrou um revólver. Passa todo o dinheiro, ordenou. Tão fácil que repetiram a dose semanas depois, mas ampliando o raio de ação. A porta foi trancada e um terceiro assaltante começava a percorrer as mesas quando surgiu um porém. Um dos clientes, completamente bêbado, resolveu fazer tudo pelo social.
– É isso aí, tem mais é que limpar essa burguesia! Toca ficha que não tô vendo nada, podicrê!
Os assaltantes se entreolharam preocupados. Afinal, o sujeito falava aos berros e podia chamar a atenção da cana. Um deles teve a má ideia de dar um empurrão no sedizente socialista que quase foi ao chão.
– Mas o que é isso, meu? Eu aqui dando força e vocês me maltratam? Mas que merda de assaltantes que vocês são!
Ato contínuo, levantou e, sempre gritando, começou a chutar cadeiras e empurrar um deles com grande estardalhaço. A essa altura, o borracho gritava a plenos pulmões, de tão furioso que estava.
– E tem mais, seus bostas! Facilita e eu urino no cano desse teu revólver!
Os gritos do cara já podiam ser ouvidos no IAPI. O trio começou a ouvir as sirenes das viaturas policiais chegando. Nervosos e temendo levar uma azeitona quente saída do cano de um trezoitão, interromperam o assalto e fugiram em desabalada carreira sem levar nada, nem do caixa nem dos fregueses
Foi assim que um bêbado arruinou um assalto que ia tão bem.
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