Notas

26 fev • NotasNenhum comentário em Notas

Corrupção light

 Corrupção sempre existiu, diz o coral dos analistas para justificar os tempos modernos, em que esse mal chegou no Brasil e fez um arranha-céu. De fato, existia em décadas e até séculos anteriores, mas nunca chegou a esse descalabro. Os que se arrumavam levavam um bom tempo para amealhar mal havidos. Comissões de dezenas e até centenas de milhões de reais contavam-se nos dedos.

imagem ilustra a corrupção no Brasil em notas na coluna de Fernando Albrecht

A escala

 Era coisa de 5%, 10% e olhe lá. Os que cobravam 10% viravam celebridades. Conheci um bancário graduado que era chamado de fulano de tal “dez por cento”. Raramente pegavam o cabra com a boca na botija. E quase nunca dava Polícia, portanto cana só em casos excepcionais. Incomodava era a reputação, mas só para iniciantes. Os corruptos mais calejados não estavam nem aí para a fama.

Técnica de compra

 Mas o que mudava mesmo era o status do corrompido. Nos anos 1970, quando o mercado imobiliário deu um salto espetacular graças à irrigação de dinheiro do BNH, não se mirava em diretores, gerentes ou alguém mais graduado, não senhor. Um paulista quatrocentão que era dono de uma empresa de crédito imobiliário me contou que as grandes construtoras gastavam pouquíssimo comprando informações sobre futuras licitações de grandes obras.

A cesta do pobre

 Sabem quem? Mandavam uma cesta de natal luxuosa no que hoje seriam coisa de R$ 15 ou 20 mil para apenas duas pessoas: secretária da diretoria ou departamento de licitações – claro que a maioria era honesta – e o boy, que tirava as cópias xerox de todos os documentos emanados pela direção. Tudo em uma empresa passava pela máquina xerox. O boy ganhava uma titica, uma cestinha básica com latinha de patê, vinho de Jundiaí, vermute doce, um panetone e algumas barrinhas de chocolate.

 Latinha de patê. O capital sempre pagou mal.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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