No tempo da Cuba Libre
Lugares para encontros furtivos eram poucos na pudica Porto Alegre dos anos 1960. Afora as boates e cabarés, estes para encontros sensoriais explícitos, era boca muito entaipada – na gíria da época – encontrar um lugar que permitisse amassos controlados, caminho de entrada para posteriores encontros em quatro paredes. Além da sobreloja do Bar Gilbert’s, na Salgado Filho, já mencionado aqui, havia Queen’s, na Andrade Neves, o Bar Amarelinho, na rua Santo Antônio, imediações da Gonçalo de Carvalho, o discreto Poodle Room, ao lado da Brahma na Cristóvão Colombo, e um reservado para gays no Restaurante Tia Dulce, na Independência.
Este era um lugar discretíssimo. Cidadãos respeitáveis entravam com sacolas e lá dentro havia a transformação poética em odaliscas, ciganas e princesas, conforme narrado por um também discreto garçom ainda vivo que atendia essa ala. Só anos mais tarde surgiu um motel exclusivamente para gays no morro Santa Teresa.
Há que se levar em conta que havia poucos motéis na época, e sempre havia o temor de ser visto por quem não deveria ter visto. O Motel da Marli reinava absoluto na Padre Cacique. Era tão conhecido que o viaduto Dom Pedro II era chamado de Viaduto da Marli, para desgosto da prefeitura. Ainda existe o Botafogo, na rua de mesmo nome. A expansão para valer se deu no final da década de 1970 em diante. Um deles adotou o criativo nome “Cê qui sabe”, corolário de papo onde a parceira era perguntada onde iriam para os finalmentes. Maravilha de sacada.
No interior do estado, todas as cidades tinham, onde ficava “a zona”, casas com uma luz vermelha na porta, senha luminosa para entrada no altar do sexo pago. A Casa da Luz Vermelha foi o primeiro genérico sexual comum em todas as casas do ramo geralmente nos subúrbios. Assim que o freguês entrava, as moças da casa se enroscavam no pescoço do cliente. A bebida da moda era Cuba Libre, rum com Coca Cola. De olho na comissão, vinha a pergunta inevitável.
– Paga uma Cuba, benhê?
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