Minhas festas no Interior

21 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em Minhas festas no Interior

 A modernidade vai jogando na poeira do esquecimento usos e costumes das nossas colônias em geral e alemãs em particular. Depois dos anos 1960/1968, mudou o mundo e mudou para pior, na minha opinião – os kerbs e os bailes dos kerbs obedeciam a algumas regras bem claras. O kerb era festejado no dia do santo padroeiro da cidade ou distrito. Para começar, havia o congraçamento dos familiares espalhados mundo afora, sempre na casa construída pelos antepassados imigrantes. Sempre aos domingos, as mulheres preparavam um baita almoço, que se estendia até o final da tarde. As da nossa família, por parte da mãe, eram na casa do tio Arno Selbach, em Santa Teresinha, perto de Bom Princípio. E vem mais uma lembrança proustiana quando penso nele, o cheiro da serragem misturada com barras de gelo quebradas do buraco onde se fincava o barril de chope. Posso sentir até hoje o cheiro das sobremesas, em especial creme de baunilha e figos em calda, duas paixões minhas.

 O baile de kerb – ou KERPE como pronunciavam os pelo-duros – só podia ser nos domingos, segundas e terças, dependendo do tamanho da localidade, mas nunca aos sábados. Motivo: os padres achavam que, se fossem nos sábados, os paroquianos enforcariam a missa solene de domingo de manhã. É para ver como eram poderosos os párocos do interior. Nada se fazia se a benção deles. Após a festança, algumas horas de sono para ficar novamente em forma para o baile, que começava cedo, tipo 21h. Tinha que usar paletó e gravata. A animação ficava por conta das bandinhas.

 No Vale do Caí, a mais famosa era a Progresso, a Tricolor de Taquara (busca no YouTube que as gravações ainda estão lá), a Banda Luar e outras. Eu gostava muito das valsas. Havia alguma influência das grandes orquestras americanas dos anos 1930/40, tanto que tinham o apelido genérico de jazz-band-musikanden. Trombone de vara, tuba, contrabaixo, gaita, às vezes, violino para tocar tangos, sax, e bateria. Eu ainda me amarro em bandinhas alemãs clássicas brasileiras.

 Amanhã, eu conto como eram os bailes e como do romântico se ia para a cama, para sempre, via casamento, ou provisoriamente. E a história da alemoa que não quis dançar.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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