Meus tempos de Cid Moreira
Com 14 anos já fui DJ. Verdade que meu arsenal de músicas não passava de 30 a 40, mas fui. E nem se chamava de DJ no início dos anos 1950, era mero locutor. Exercia o cargo de grátis, antes do início das aulas, nos sábados, quando me dava na veneta, e em dias festivos. Conto o causo como o causo foi.
Cursando a segunda série do então curso ginasial, no Ginásio São João Batista de Montenegro, fui solenemente convidado para operar a Voz do Poste – eram apenas dois – do pátio. Abria o maldito microfone, que dava choque tipo cadeira elétrica, eu começava os trabalhos tentando imitar o melhor locutor do Brasil daquele tempo, Ramos Calhela.
– Bom dia, muito bom dia! Aqui o Serviço de Alto Falantes do Ginásio São João Batista.
De imediato, tocava um dos dois únicos long play (vinil) do estoque, um dos Irmãos Bertussi, de música gauchesca, alternando com a orquestra de Glenn Miller, com standards do jazz. Total dos dois: 24 faixas.
Também colocava no prato os hinos Nacional, da República, da Bandeira, da Pátria. O Riograndense não existia. E se existisse, eu não tocaria, por ser obra de um paulista. Ainda imitava o vento e o trovão: quer dizer que fui 3 em 1, locutor, DJ e sonoplasta.
Não sei porque uma grande rede de rádios não me contratou. Azar o deles. Perderam um grande talento.