Memórias Mottianas
O caso de hoje é contado por Paulo Motta, querido amigo e um sujeito espetacular. Quando for grande, quero ser como ele.
ENCHUFAR
Olha, não sei se isso é verbo ou coisa parecida, mas lembro que a minha avó, a Cantídia, prima-irmã do Demêncio Ventana, meu tio em pó – foi cremado – me dizia: “Enchufa essa coisa na tomada pra gente poder ouvir a novela, guri!”.
“Essa coisa” era o negócio do rádio que vai na tomada de luz que dava energia elétrica que fazia o rádio Geloso a válvulas funcionar e podíamos ouvir a novela radiofônica Melodia Sinistra, sob a chancela da Farmácia Rex e da Casa Lord, lá na longínqua São Borja dos anos 60.
Nos dias de hoje ninguém enchufa mais nada. É tudo copiar, colar, recortar e, se não agradar, deleta, seu estúpido!
Talvez a minha geração seja mais criativa por ouvir rádio e ler gibis, que permitiam que nossas cabecinhas imaginassem coisas a partir de simples descrições, talvez. Muitos discos de vinil com histórias infantis nos faziam viajar na voz dos atores; eram apenas vozes, imaginem isso nos dias de hoje, seus impertinentes!
Não havia jogos eletrônicos nem essa televisão avassaladora que tem mais crédito do que tu, diante dos teus filhos, e amortece a capacidade criativa dessa criançada.
É mais fácil apertar um botão pra ligar a tevê do que abrir um livro. Livro dá preguiça, muita letrinha e pouca figurinha.
Quem sabe voltemos a enchufar coisas, abrir livros e ouvir mais do que falar, hein?
Tô ficando velho, amigas e amigos bandalhos.
Beijo carinhoso no fígado de vocês!
Meu amigo Fernando Albrecht, encantado pela publicação do meu humilde texto no teu blog, hoje. Tuas generosas palavras me fizeram me sentir lisonjeado! Muito obrigado!
Abraço